O primeiro Centro de Atenção Psicossocial (Caps) com acolhimento
noturno da rede municipal de Saúde Mental foi inaugurado, na manhã de
ontem, pela prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. A ampliação desse
serviço, incluindo também o atendimento aos usuários do crack, é
resultado do apelo da juventude no Orçamento Participativo realizado em
2010. O serviço 24 horas funciona no já existente Caps Geral da Regional
II e conta com atenção contínua. No local, são oferecidos dez leitos e
retaguarda clínica para outros serviços de saúde mental, como os Caps
Álcool e Drogas (Caps AD).
Anteriormente, o Centro funcionava até às 17h. Assim, deixava
desamparados possíveis pacientes com surtos noturnos e que,
consequentemente, eram internados em hospitais. Para a prefeita, esse é
um passo a mais na chamada reforma psiquiátrica em Fortaleza, que luta
contra a visão hospitalocêntrica de tratamento de pessoas com trasntorno
mental.
Atendimento
Conhecido como Caps tipo III, o Centro oferece atendimento em horário
integral com equipes multiprofissionais para tratamento de pessoas com
transtornos mentais graves e persistentes. Uma média de 45 atendimentos
será realizada por mês. Luizianne Lins explica que, atualmente, os
centros são procurados não apenas por famílias de baixa renda, como
também pela classe média. “Estamos atendendo cerca de 1.500 pessoas por
mês em cada um dos seis Caps Geral, ou seja, essa era uma demanda
reprimida que Fortaleza tinha”, diz.
O secretário municipal de Educação, Elmano Freitas, observa a
inauguração como avanço em uma política de Saúde Mental humanizada.
“Estamos, de maneira concreta, superando uma cultura que tinha com
política a internação de pessoas com problemas de maneira, muitas vezes,
desumana e com torturas”. Segundo a secretária de Saúde do Município,
Ana Maria Fontenele, o serviço surge para completar as ações já
existentes. Ela destaca, ainda, que, no período de um mês, mais dez
leitos 24h serão inaugurados na Regional I. “Além disso, brevemente,
vamos abrir a Porta de Entrada de Saúde Mental. Uma urgência anexa ao
Gonzaguinha do José Valter”, informa.
Qualidade
Uma questão que preocupa os profissionais da Medicina é a
funcionalidade efetiva do atendimento nos Caps. Apesar de reconhecer o
esforço da Prefeitura de Fortaleza, diante da necessidade da sociedade,
alguns especialistas discutem a preparação adequada dos profissionais.
Para o professor titular da faculdade medicina da Universidade
Federal do Ceará (UFC) e chefe do Serviço de Psiquiatria do Hospital
Universitário, Antônio Mourão Cavalcante, o novo aparelho tem
característica de urgência. “Parece mais uma resposta, a qualquer preço,
para a sociedade que precisa desse tipo de atendimento do que uma ação
bem estruturada e planejada que possa trazer resultados”, critica.
Questionada sobre o assunto, Luizianne Lins garante que o melhor sistema
de rede de atenção psiquiátrica e Saúde Mental está no Município.
Com a reforma psiquiátrica, alicerçada pela Lei 10.216/2001, leitos
em hospitais psiquiátricos estão sendo extintos para dar lugar a
tratamentos em locais como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e
Centros de Convivência e Residências Terapêuticas. A lei entende que as
internações prolongadas não levam o paciente à cura e não lhe
possibilitam uma vida digna. Pelo contrário, segregam. Atualmente, a
Capital tem seis Caps Geral, seis AD e dois infantis. Os 14 centros
atendem a mais de 14 mil pessoas por mês. Com a ampliação do
atendimento, o número de profissionais saltou de 54 para 472.
Previsão
Quarenta e cinco é a média de atendimentos que serão realizados, por
mês, no Caps 24 horas. Em cada centro existente, são recebidas cerca de
1.500 pessoas por mês.
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